18 fevereiro 2013

Submissão, Amy Waldman

Amy Waldman, jornalista do New York Times, estreou-se na ficção, em 2011, com o romance "Submissão". Convém realçar de início que é primeiro romance de uma jornalista experiente, pois se o tema abordado e as questões que se colocam ao longo da narrativa poderiam ter sido escritos por qualquer autor atento, a acuidade e certeza de bisturi com que são tratados denotam grande parte fruto de automatismos da profissão de repórter na busca do pormenor, da contradição que levam à "verdade" do que se relata.

O ponto de partida da narrativa é a submissão a concurso de projectos de arquitectura para erigir, em Nova Yorque, um memorial às vítimas das Torres Gémeas no atentado de 11 de Setembro. Facto banal que nada tem de transcendente até ao momento em que é conhecido, entre os membros do júri, o provável vencedor, Mohamed Khan, norte-americano de nascença, muçulmano por inércia. Daqui se desenrola toda a trama que aborda algumas consequências morais, éticas, políticas e sociais do acto terrorista. E Amy Waldman escolhe uma galeria de estereotipadas figuras de cidadãos americanos (muito centrada em Nova York, que são uns americanos especiais), desde os que integram movimentos de direita anti-imigrantes, islamitas paquistaneses, jornalistas, mulheres libertárias, e mulheres conservadoras, todos partindo das suas convicções originais muito firmes e que as vão colocando em confronto e em causa ao longo da história. As duas figuras que desde de início não têm certezas, e que "caminham" em sentido de contrário de todos os outros, são o arquitecto Mohamed Khan e um membro do júri "representante" das famílias das vítimas, Claire Burwell, viúva de uma das vítimas. Estas duas figuras centrais não acabam por transformarem as suas dúvidas em certezas, mas têm mais certeza quanto a uma pacificação interior das suas vidas. Talvez o que seja necessário à América.

História muito interessante e bem "armadilhada", escrita num estilo de pré-guião cinematográfico (estilo em voga nos EUA de há alguns anos a esta parte), tem o condão de prender o leitor ao longo de quase todo o livro, enfraquecendo nitidamente no seu término, parte em que Amy Waldman perde/abandona o foco de jornalista e dá a sensação de cair na tentação de moralizar sem denotadamente o querer fazer.

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